SANTA RITA DE CÁSSIA
História
Santa Rita de Cássia ou Santa das Causas Urgentes e Impossíveis, como é geralmente conhecida a “grande advogada dos aflitos”, nasceu em Roccaporena, perto de Cássia (Itália). O nome verdadeiro da nossa Santa é Margherita Lotti, filha de Antonio Lotti e Amata Ferri. O nascimento da Santa foi precedido por sinais maravilhosos e visões celestiais que fizeram seus pais perceberem algo da futura e providencial missão de Rita, que seria colocada no mundo para instrumento da misericórdia de Deus em favor da humanidade sofredora.
O Nascimento
Santa Rita nasceu num pequeno povoado chamado Roccaporena, a 5 km de Cássia, no alto dos montes Apeninos, na Província da Úmbria. Os pais da santa, Antonio Lotti e Amata Ferri, formavam um casal exemplar. Eram conhecidos como “pacificadores de Jesus Cristo”. Por suas virtudes gozavam de prestígio e autoridade no meio do povo. Sua ocupação diária era visitar os vizinhos mais necessitados, levando-lhes ajuda espiritual e material. Para que sua felicidade fosse completa, faltava-lhes um filho.
Apesar dos 62 anos de Amata, idade improvável para engravidar, Deus atendeu às suas preces. Conta-se que um anjo lhe apareceu revelando que ela daria à luz uma menina, escolhida por Deus para manifestar os seus prodígios, e receber a admiração de todos. Em 1371, nasceu sua filha, batizada em Santa Maria dos Pobres, em Cássia, porque só em 1720 o pequeno povoado de Roccaporena iria receber sua pia batismal. Rita, diminutivo de Margherita, foi o nome revelado pelo anjo, com o qual a santa se tornou conhecida para sempre.
As abelhas
Antonio e Amata trabalhando nos campos, enquanto lavradores e pássaros cantavam em uníssono e os prateados salgueiros murmuravam ao longo do rio calmo, a criança sonhava, com seus olhos voltados para o céu azul, e agitava suas mãozinhas, quando um grande enxame de abelhas brancas a envolveu, fazendo um zumbido especial.
Muitas delas entravam em sua boca e aí depositavam mel, sem a ferroar, como se não tivessem ferrões. Nenhum gemido da criança para chamar seus pais, ao contrário, dava gritinhos de alegria. Enquanto isso, um ceifeiro que estava próximo, feriu-se com a própria foice dando um grande talho na mão direita.
Dirigindo-se imediatamente para Cássia, para ter os necessários cuidados médicos, viu ao passar perto da criança, as abelhas que zumbiam ao redor de sua cabeça. Parou e agitou as mãos para livrá-la quando, ao mesmo instante, sua mão cessou de sangrar e o ferimento se fechou. Deu gritos de surpresa; acudiram Antônio e Amata. O enxame, por poucos instantes disperso, voltou ao lugar de suas delícias. E mais tarde, quando Rita for para o mosteiro de Cássia, as abelhas habitarão nas paredes do jardim interno.
A infância e a juventude
Apesar de escassa a realidade histórica do período da infância e juventude da vida de Santa Rita de Cássia, muitas biografias antigas afirmam que Rita era para seus pais um precioso dom concedido à fé e às orações deles, que até então pensaram serem estéreis.
Analfabetos, procuravam transmitir à criança seus conhecimentos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Santa Virgem Maria e dos santos populares, e do Evangelho. Apenas chegara à idade da razão e apareceram em Rita os primeiros sinais de virtude que, sob influência da graça divina, desenvolveram-se em sua bela alma. Rita era um anjo, dócil, respeitosa e obediente para com seus velhos pais, a quem amava com delírio.
Os ensinamentos que seus pais lhe davam levaram-na a decidir, aos 8 anos de idade, a consagrar a sua virgindade a Jesus, esposo das virgens. Gostava tanto da vida retirada que seus pais lhe permitiram ter um oratório dentro de casa, ali passava os dias meditando no amor de Jesus e purificando seu inocente corpo com penitências.
Aos 16 anos já pensava no modo de confirmar definitivamente sua consagração a Jesus Cristo por meio dos votos perpétuos. Rita chegou a pedir, de joelhos, licença para entrar no convento. Seus pais, porém, com a idade avançada, guiados pelo amor natural e não querendo deixá-la só neste mundo, resolveram casá-la com um jovem que pedira sua mão. Não se sabe exatamente qual a idade de Rita nessa época. Certos autores dizem que ela tinha 18 anos.
Ela se via entre o amor à virgindade e a obediência devida a seus pais. Não tinha coragem de dar a um homem o coração que desde a infância consagrara a Deus e, por outro lado, causava-lhe piedade seus velhos pais, muito idosos, aos quais se acostumara a obedecer nas mínimas coisas.
O jovem que pedira a mão de Rita era Paolo di Ferdinando Mancini, descrito como um homem pervertido, de caráter feroz e sem temor a Deus, com o qual não se podia discutir e que seria capaz de provocar um verdadeiro escândalo se Rita e seus pais não consentissem nesse casamento. Foi assim que Rita se viu obrigada a esse casamento.
O Casamento
Santa Rita de Cássia queria ser religiosa, mas seus pais escolheram para ela um marido, como era costume na época. O marido escolhido foi Paolo Ferdinando. Não foi uma boa escolha, pois Paolo era um infiel no matrimônio e tinha o hábito de beber demais. Por causa dele, Santa Rita sofreu por 18 anos, período em que foi casada. O casal teve dois filhos. Durante o tempo de casada, Rita demonstrou muita paciência e resignação por tudo que sofreu.
Mesmo sofrendo, ela nunca deixou de rezar pela conversão dele. Por fim, a mansidão e o amor de Rita transformaram aquele homem rude e bruto. Paolo se converteu e mudou sua vida conjugal de tal forma que as amigas de Rita e as mulheres da cidade vinham aconselhar-se com ela.
Paolo, embora verdadeiramente convertido, tinha deixado um rastro de violência e rixas entre alguns grupos da cidade. Assim, um dia ele saiu para trabalhar e não voltou para casa. Santa Rita de Cássia teve a certeza de que algo horrível tinha acontecido.
No dia seguinte ele foi encontrado morto. Tinha sido assassinado. Seus dois filhos, que já eram jovens, juraram vingar a morte do pai. Santa Rita, então, pediu a Deus que não deixasse eles cometerem esse pecado mortal. Logo os dois ficaram muito doentes, de forma incurável. Antes que eles morressem, porém, Santa Rita ajudou os dois a se converterem, ao amor de Deus e ao perdão. A graça foi tão grande que os dois conseguiram perdoar o assassino do pai, e morreram. Cerca de um ano após a morte do pai, com pequeno intervalo entre um e outro, ambos faleceram. Rita os sepultou ao lado do marido e ficou sozinha, tendo apenas seu Deus neste mundo.
Trajetória da Vida Religiosa
Sozinha no mundo, Rita transformou-se numa mulher de oração. Além do trabalho doméstico, ela continuava a visitar os enfermos e os pobres. Participava da missa no mosteiro das agostinianas. Um dia, procurou a superiora e pediu-lhe para ingressar na ordem, mas não foi aceita. Por três vezes Rita pediu para ser admitida no mosteiro, e por três vezes ouviu o “não” da superiora. As irmãs, porém, estavam em dúvida sobre sua vocação, visto que tinha sido casada, o marido fora assassinado e os dois filhos morreram de peste. Por tudo isso, elas não queriam aceitar Rita no convento.
Então, numa noite, Santa Rita dormia, quando ouviu uma voz chamando: Rita. Rita. Rita. Ela abriu a porta e estavam ali, São Francisco, São Nicolau e São João Batista. Eles pediram que ela os seguisse e depois de andarem pelas ruas, os santos desapareceram e Rita sentiu um suave empurrão. Ela caiu em êxtase e, quando voltou a si, estava dentro do mosteiro, onde a porta do convento estava sempre fortemente trancada e os seus muros eram como os de uma fortaleza.
Todavia, certo dia, ao amanhecer, as religiosas agostinianas ficaram perplexas ao verem Rita, na capela do convento, rezando sem que ninguém a houvesse colocado para dentro e estando a porta do mosteiro ainda fechada. As religiosas, a começar pela superiora, ficaram pasmas com a presença de Rita, mesmo estando fechadas as portas do mosteiro. Vendo que era Deus quem a destinava à vida religiosa, a receberam-na.
No mosteiro, Santa Rita mostrou-se servidora e contemplativa. Ao mesmo tempo em que estava disponível às irmãs, servindo-as, também estava em constante oração, passando muitas horas diante de Jesus crucificado. Continuou sempre a sair para visitar os enfermos e os pobres. Como todo e qualquer santo, enfrentou dificuldades e tentações, mas a tudo superou com a força da fé. Santa Rita sempre esteve consciente de que obedecendo à superiora, obedecia a Jesus.
Certo dia, a superiora, para pô-la a prova, pediu-lhe que, todos os dias, regasse um galho seco pela manhã e à tarde. Em sinal de obediência, Rita o fez com todo o carinho e, tempos depois, milagrosamente, o galho seco se transformou em uma bela videira. Esta ainda existe, em Cássia, e continua produzindo uvas.
A devoção a Jesus crucificado sempre foi uma constante na vida de Rita. No ano de 1443, Tiago della Marca – depois canonizado – pregou um retiro em Cássia sobre a Paixão e a Morte de Jesus. Voltando para o mosteiro depois de uma das pregações, Rita prostrou-se diante do crucifixo, na capela, e pediu para participar de alguma forma, da Paixão de Nosso Senhor. Foi quando um espinho da coroa de Cristo se destacando com grande velocidade a feriu tão profundamente sua fronte que e ela desmaiou.
Ao acordar, tinha uma ferida na testa que não cicatrizava. Com o tempo, essa ferida tornou-se malcheirosa. Rita então passou a viver numa cela à parte, distante das demais monjas; uma religiosa levava alimento a ela, diariamente. A ferida causava muitas dores; mas tudo ela oferecia a Deus. Por 15 anos Santa Rita carregou consigo a marca feita pelo espinho da coroa de Cristo.
O povo de Cássia, atento ao que acontecia no mosteiro, percebeu que havia algo de diferente em Santa Rita. Muitos iam até ela e pediam a sua intercessão em vários assuntos; todos eram atendidos. Em pouco tempo sua fama de santidade se espalhou pela região.
Em 1450 o papa Nicolau V proclamou o Ano Santo. De toda parte pessoas iam a Roma em busca de indulgências. As monjas agostinianas de Cássia tomaram a decisão de ir a Roma. Rita queria receber as indulgências plenárias – perdão de todos os pecados – mas, devido a ferida fétida e por estar doente, não obteve da superiora permissão para participar da peregrinação.
Então, diante do crucifixo, ela rezou, pediu a Nosso Senhor Jesus Cristo que retirasse temporariamente a ferida de sua fronte, mas mantivesse a dor para que pudesse ir a Roma. E conseguiu tal milagre. Rita foi a Roma, viu o Papa, obteve as indulgências, visitou os túmulos de Pedro e Paulo e outros lugares. A viagem foi difícil, sendo em parte feita a pé. Santa Rita, contudo, em nenhum momento perdeu a coragem e o ânimo. Ela estava, então, com 60 anos e, durante toda peregrinação, sentiu a dor do espinho (na fronte). Ao retornar a Cássia, a ferida voltou a se abrir, e a cada dia mais pessoas a visitavam para pedir a sua intercessão.
Aos poucos a saúde de Santa Rita foi se debilitando, até o momento em que já não mais se alimentava, vivendo apenas da Eucaristia. Permaneceu doente por quatro anos, até a morte.
No leito de morte, uma parente de Santa Rita a visitou no inverno, quando tudo estava coberto pela neve. Ao se despedir, a parente perguntou se a santa queria algo. Ela disse que sim, e pediu uma rosa do jardim de sua antiga casa, em Roccaporena. A parente julgou que ela estava delirando; desde quando havia rosas no inverno? Mas decidiu atender o pedido e foi em sua antiga casa. Chegando em sua vila, a surpresa: milagrosamente em meio à neve, havia uma rosa magnífica! A senhora então a colheu e levou para Santa Rita, que agradeceu a Deus por Sua bondade.
Morreu no dia 22 de maio de 1457, aos 76 anos de idade, e tendo passado 40 anos no mosteiro. A ferida em sua fronte cicatrizou assim que ela morreu e, em lugar do mau cheiro, passou a exalar um suave perfume. Seu rosto tornou-se sorridente, como quem está pleno de contentamento.
Nessa hora, mãos invisíveis fizeram soar os sinos do convento e da vila de Cássia, entoando o hino triunfal daquela que viveu e morreu no fiel cumprimento da vontade de Deus. Muitos milagres acompanharam sua morte. Na cela onde faleceu, apareceu uma luz de grande esplendor e um perfume se fez sentir em todo o mosteiro. A ferida do espinho, antes de aspecto repugnante, tornou-se cheia de brilho, limpa e da cor do rubi. Centenas de pessoas compareciam ao convento para ver a “santa” cujo cadáver ficou em exposição além do tempo de costume.
As religiosas trataram de sepultar-lhe o corpo, mas em toda a cidade só se encontrou um carpinteiro, tão doente que não podia manejar as ferramentas. – Que a Santa me cure – disse ele -, e eu lhe farei o caixão. De fato, Francesco Barbari sentiu-se repentinamente curado e cumpriu a promessa. As irmãs entoavam hinos de agradecimento a Deus por ter exaltado no céu e na terra sua serva. Rita foi venerada como santa imediatamente após a sua morte, como atestam o sarcófago e o Códex Miraculorum, documentos de 1457 e 1462.
São muitas as pessoas que visitam a capela onde Santa Rita recebeu o espinho da coroa de Cristo, bem como a igreja de Cássia, onde está o seu corpo. São inúmeros os testemunhos de conversão, milagres e curas.
A devoção a Rita não ficou restrita a Cássia, nem à Itália. Espalhou-se por todo o mundo. Muitas são as igrejas dedicadas a ela. Santa Rita foi beatificada duzentos anos depois de sua morte, em 1628. O papa Leão XIII, aos 24 de maio de 1900, a canonizou.