Padre do Acre se afasta da vida sacerdotal para ser candidato a deputado estadual pelo PT
Padre Antônio Menezes se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) na sexta-feira, 28 de novembro, em Xapuri (AC). | Instagram/PT do Acre
O padre Antônio Menezes foi suspenso do uso de ordens por ter decidido se filiar ao Partido dos Trabalhadores para tentar se eleger deputado estadual. O padre, “de livre e espontânea vontade, escolheu o caminho da filiação partidária e uma pretendida candidatura a um cargo político”, disse o bispo de Rio Branco, dom Joaquín Pertíñez Fernández, em comunicado à sua diocese, no dia 29 de novembro, um dia depois de Menezes se filiar ao PT e anunciar pré-candidatura a deputado estadual no Acre. “Seguindo as normas do Código de Direto Canônico, que todos devemos obedecer, decido suspender o uso de ordens por tempo indeterminado, como presbítero, nesta diocese de Rio Branco”.
Em sua nota, dom Joaquín Pertíñez ainda proibiu o padre “de presidir ou administrar qualquer sacramento (missa, batismo, confissão, matrimônio), a não ser o que lhe faculta o Direito, como o atendimento de fiéis que se encontram em perigo de morte (cf. cânon 976), assim como participar de qualquer ato religioso como presbítero”. Além disso, o bispo o proibiu “de fazer qualquer postagem, em redes sociais, em grupos pertencentes à diocese, sejam da categoria que forem, promovendo qualquer tipo de campanha política”.
“Ele já sabe, por experiência própria, que nossa Igreja, a quem disse servir, não permite esse posicionamento pessoal, nem partidário e, menos ainda, como candidato a um cargo político”, ressaltou dom Pertíñez pedindo que todos cumpram estas suas orientações “para o bem de todos e de nossa Santa Igreja”.
O Código de Direito Canônico, no cânon 285 -§ 3, diz que: “os clérigos estão proibidos de assumir cargos públicos que importem a participação no exercício do poder civil” e destaca no Cân. 287- § 2, que os padres, “não tomem parte ativa em partidos políticos ou na direção de associações sindicais, a não ser que, a juízo da autoridade eclesiástica competente, o exija a defesa dos direitos da Igreja ou a promoção do bem comum”.
Atualmente o Brasil tem três padres que deixaram suas funções sacerdotais para entrar na política, todos pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O padre João Carlos Siqueira, do clero de Mariana (MG), está no quarto mandato como deputado federal por Minas Gerais pelo PT. O padre Afonso Lobato, do clero de Taubaté (SP), foi deputado estadual por São Paulo pelo PT durante quatro mandatos na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), entre 2003 a 2019. Ele não é mais deputado estadual, mas exerce desde 2021 o cargo de secretário de governo na prefeitura de Taubaté e está filiado ao Podemos. O padre Pedro Baldissera, do clero de Chapecó (SC), é deputado estadual de Santa Catarina pelo PT. Em 1996, foi eleito prefeito de Guaraciaba e reeleito em 2000 também pelo PT.
O papa Francisco, segundo o padre, foi “inspiração” para sua decisão pela política. Ele cita uma frase do papa: "A política é uma das mais lindas formas de fazer caridade".
“Como que eu vou fazer caridade se eu não tenho recurso? Como que eu vou praticar o bem?”, perguntou Menezes. “Existe na Igreja, o que a gente chama de doutrina social da Igreja, que é uma doutrina ecumênica. A igreja católica tem um projeto lindo para trabalhar na política, mas ninguém vê as pessoas falando de projeto social. A gente precisa trabalhar mais no social, o nosso povo precisa comer”.
Monasa Narjara é jornalista da ACI Digital desde 2022 e foi jornalista na Arquidiocese de Brasília entre 2014 a 2015.
“Eu preciso voltar para o meu primeiro amor”, disse o vereador Júnior Corrêa, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), ao explicar que não vai disputar a eleição de prefeito e vai deixar a política para ser padre.
O padre Juraci da Silva Bernardo, da diocese de Petrolina (PE), foi demitido do estado clerical por ter se candidatado a vereador nas eleições de 2020. Pelo Código de Direito Canônico, padres são proibidos de se candidatar a cargos públicos, a não ser que recebam autorização do bispo, o que não foi o caso de padre Juraci Bernardo.
Arcebispo reforça: Membro do clero que se candidatar a cargo político será suspenso
O Arcebispo de Maringá (PR), Dom Severino Clasen, publicou uma nota por meio da qual recordou a proibição de membros do clero se candidatarem a cargo político e reforçou que aqueles que o fizerem terão suspenso o “exercício das sagradas ordens”.
A Doutrina Social da Igreja tem muito a contribuir nas eleições municipais, dizem especialistas
Os brasileiros vão às urnas em outubro para escolher prefeitos e vice-prefeitos, e vereadores. Em agosto começa a propaganda eleitoral, quando os eleitores passarão a ter mais contato com as propostas dos candidatos. Nesse contexto, especialistas consideram que a Doutrina Social da Igreja pode dar uma grande contribuição tanto para os políticos quanto para os eleitores.
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Fonte: ACI Digital
URL Original: https://www.acidigital.com/noticia/65739/padre-do-acre-se-afasta-da-vida-sacerdotal-para-ser-candidato-a-deputado-estadual-pelo-pt
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