O destino da Amazônia e, por extensão, o do equilíbrio climático global, transfere-se para o centro de um debate na COP30 que há muito deixou de ser apenas técnico para se tornar uma profunda crise existencial e de fé.
O cerne da questão reside na compreensão da Ecologia Integral, um conceito que estabelece que tudo está intrinsecamente interligado. A falência ambiental é inseparável da falência social; o descaso com a criação manifesta-se no abandono dos mais vulneráveis. Não se trata de uma simples gestão de recursos, mas de uma questão de profunda conversão ecológica, um chamado à mudança de paradigma que exige que a humanidade abandone seu papel destrutivo para assumir a vocação de guardiã. O cuidado com o planeta, portanto, eleva-se à condição de mandamento moral, refletindo a responsabilidade para com a obra da criação.
O perigo iminente reside na desproporção entre a potência destrutiva da ação humana e a fragilidade da vida. Diante da ameaça de catástrofes irreversíveis – do colapso climático a cenários de guerra nuclear – a reflexão sobre a sobrevivência da esperança se impõe.
Em missa durante a pré COP 30 no regional Oeste 1 da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, Arcebispo de Campo Grande, destacou que: “Que nós, nessas nossas reflexões em torno das questões climáticas e ambientais, tenhamos presente que o perigo, ele vai muito além. E hoje, de novo, se fala numa possível guerra atômica, que pode acabar com a humanidade assim no estalar de dedos. Aquele medo da antiga Guerra Fria volta sempre de novo. E sempre de novo é preciso proclamar a esperança que não decepciona”.
A história nos ensina que, mesmo após a manifestação da maior imbecilidade humana, a vida teima em subsistir.
Dom Dimas recordou a poesia de Vinicius de Morais intitulada Flor de Hiroshima ao fazer memória dos 80 anos das explosões atômicas no Japão. “se, para Vinícius de Moraes, a rosa, que lembra de fato o cogumelo da bomba atômica, era um sinal de protesto, para nós, a flor de Nagasaki é um sinal de esperança. De que, repito, para além da potência incrível da maldade humana, a palavra de Deus é ainda um sim à vida. “, disso o arcebispo. A imagem da flor que sobreviveu à hecatombe nuclear serve como um poderoso símbolo: apesar de todo o poder da maldade e da arrogância humana, a palavra final pertence à vida. É essa convicção que alimenta a urgência de uma resposta global.
A COP30 se apresenta como o momento derradeiro para que as nações assumam compromissos concretos. O sucesso da cúpula não será medido em 2025, mas em fevereiro daquele ano, quando os países devem apresentar Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) ambiciosas o suficiente para não ultrapassar o limite de 1,5∘C de aquecimento. A hora não é de hesitação; é de agir, transformando o manual de instrução socioambiental em políticas públicas assertivas, embasadas tanto na ciência quanto no conhecimento ancestral e tradicional dos territórios.
Enquanto os fóruns globais buscam resoluções diplomáticas, a verdadeira resistência pulsa nas bases. As comunidades que habitam o Pantanal, a Amazônia e o semiárido, como a Caatinga – biomas que sofrem com a poluição de suas águas e a destruição de seus territórios –, demonstram que a solução ecológica é indissociável da organização social.
É na escala local que se forjam as Cartografias da Esperança. Produtores que se organizam em associações e cooperativas demonstram a eficácia de modelos de extração sustentável, onde o lucro é subordinado à preservação e ao benefício social. A transição para uma consciência sustentável começa com pequenas mudanças no padrão de consumo, evolui para o engajamento na política ambiental e culmina em modelos produtivos que garantem o bem viver e a dignidade do trabalho em harmonia com a natureza.
O desafio da conferência na Amazônia, portanto, é duplo: forçar a diplomacia global a se alinhar à urgência dos fatos científicos e, simultaneamente, honrar e incorporar o conhecimento dos povos tradicionais, cuja sabedoria secular é a verdadeira chave para proteger o patrimônio vital do planeta. A luta pelo clima é, em última análise, uma luta pela reafirmação da vida.
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Fonte: Aleteia
URL Original: https://pt.aleteia.org/2025/10/31/a-conversao-necessaria-na-cop30/
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