A possibilidade de um diaconado feminino foi uma das questões frequentemente debatidas durante o pontificado do Papa Francisco. O pontífice argentino instituiu uma primeira comissão em 2016 para estudar a natureza das "diaconisas" que existiam nos primeiros séculos da Igreja Católica. Em 2019, considerou que o resultado do trabalho - não publicado - foi "não extraordinário", observando que não havia unanimidade entre os membros da comissão. Em 2020, ele decidiu abrir uma nova comissão de estudo, que se reuniu pela última vez em fevereiro de 2025, dois meses antes da morte do Papa.
Esta segunda comissão de cerca de dez membros é presidida pelo cardeal Giuseppe Petrocchi, arcebispo emérito de L'Aquila (Itália). Tirando as conclusões dos resultados do trabalho, o italiano indica que "unanimemente", os especialistas afirmam que, de acordo com o estado atual da pesquisa, o diaconado feminino na história "não foi concebido como o simples equivalente feminino do diaconado masculino e não parece ter assumido um caráter sacramental".
De fato, duas abordagens se opõem hoje em relação à natureza da ordenação dessas mulheres nos primeiros séculos. A primeira acredita que as diaconesas eram ordenadas pela imposição das mãos e que esse ritual tinha uma dimensão sacramental. O segundo toma o lado oposto, considerando que o diaconado feminino nunca poderia ser o equivalente ao diaconado masculino, que não era um sacramento, mas uma espécie de ministério instituído - como são hoje os ministérios de catequista ou leitor que estão abertos aos leigos.
O cardeal Petrocchi especifica que "a perspectiva puramente histórica não permite alcançar uma certeza definitiva" sobre a realidade dos primeiros séculos. Ele também lembra que "a decisão final" sobre este caso cabe "ao magistério da Igreja" - ou seja, o papa e os bispos.
O Papa Francisco sempre expressou, de forma pessoal, suas reservas sobre o diaconado feminino. Em sua exortação apostólica Querida Amazônia em 2020 – retomando o trabalho do Sínodo sobre a Amazônia – Francisco não reteve a ideia da ordenação diaconal de mulheres avançada por pais sinodais. Em maio de 2024, ele novamente descartou essa possibilidade em entrevista ao canal americano CBS.
No entanto, para a Igreja Católica, um dos pontos nevrálgicos que justificam que o sacerdócio seja reservado aos homens tem a ver com o fato de que o próprio Jesus era um homem - um argumento que João Paulo II desenvolveu em particular em sua Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis (1994).
Na primeira entrevista de seu pontificado com a jornalista Elise Ann Allen, Leão XIV reconheceu que a questão era "sensível" e declarou que "não tinha intenção de mudar o ensino da Igreja sobre esse ponto", pelo menos não "por enquanto". O pontífice americano acreditava que havia "questões prévias" a serem feitas, citando o desconhecimento do diaconado permanente - reservado aos homens - em certas partes do mundo ou o risco de "clericalizar" as mulheres.
Por outro lado, Leão XIV disse que estava "disposto a continuar a ouvir as pessoas" sobre este assunto, que nos últimos anos percorreu o Sínodo sobre sinodalidade, um grande projeto aberto em 2021 para refletir sobre o futuro da Igreja. O documento final da assembleia em 2024 assegurou que esta questão "permanece em aberto" e pediu para "prosseguir o discernimento a esse respeito". Essas poucas linhas suscitaram debates acalorados, com 97 oposições expressas durante a votação - de 356 membros. Depois disso, o Papa Francisco reativou a comissão de estudo.
Fazendo um balanço do estado dos debates, o presidente da comissão do Vaticano observa "duas 'escolas' teológicas opostas" sobre o diaconado em geral: uma afirma que a ordenação do diácono é ad ministerium (orientado para um ministério, serviço na Igreja) e não ad sacerdotium (ligado ao sacerdócio), o que abriria caminho para a ordenação de diaconesas. O outro "se concentra na unidade do sacramento da Ordem", acreditando que se a admissão das mulheres ao diaconado fosse aprovada, seria "inexplicável" que ela não pudesse acessar as outras dimensões da ordenação, ou seja, padre ou bispo.
No entanto, para a Igreja Católica, um dos pontos nevrálgicos que justificam que o sacerdócio seja reservado aos homens tem a ver com o fato de que o próprio Jesus era um homem - um argumento que João Paulo II desenvolveu em particular em sua Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis (1994).
As posições divergentes do debate se refletem nos votos dos membros ao longo das reuniões da comissão, e cujos detalhes são tornados públicos. Metade considera que a masculinidade de Jesus faz parte da identidade do sacramento, e a outra metade discorda.
A maioria da comissão não é a favor de uma mudança: em cada 10, apenas dois deles se pronunciam a favor de um diaconado feminino ordenado - contra 6 não e dois votos em branco. Quatro se opõem a isso "por enquanto", sem excluir possíveis "evoluções" no futuro. E quatro vetam qualquer evolução.
Por outro lado, os membros são unânimes para a instituição de novos ministérios não ordenados que permitiriam uma melhor participação das mulheres. Em 2022, eles aplaudiram (7 em 8 membros a formulação de que o estado da questão "exclui a possibilidade de avançar na direção da admissão de mulheres ao diaconado entendido como grau do sacramento da Ordem", sem, no entanto, pronunciar um "julito final". Este é também o título da mídia oficial do Vaticano: "Não ao diaconado feminino, mesmo que o julgamento não seja definitivo".
O cardeal Petrocchi declara que "a falta de convergência sobre polaridades doutrinárias e pastorais fundamentais", motiva, segundo ele, "a manutenção de uma linha de avaliação prudente sobre a questão do diaconato das mulheres". Ele prevê a necessidade de investigações e "novos aprofundamentos teológicos e pastorais", em particular para esclarecer a especificidade do próprio diaconado. As atividades dos diáconos, observa ele, muitas vezes coincidem com os papéis dos ministérios seculares, e isso levanta "questionações".
Além do presidente, a comissão tem um secretário, o padre teólogo francês Denis Dupont-Fauville, oficial do dicastério para a Doutrina da Fé (DDF). Tem cinco mulheres, incluindo a teóloga francesa Anne-Marie Pelletier. Os outros membros são a teóloga americana Catherine Brown Tkacz, os diáconos americanos Dominic Cerrato e James Keating, a filósofa inglesa Caroline Farey, a teóloga suíça Barbara Hallensleben, o teólogo alemão Manfred Hauke, o italiano Monsenseor Angelo Lameri, professor de liturgia na Pontifícia Universidade de Latrão e a teóloga italiana Rosalba Manes. O padre espanhol Santiago del Cura Elena, que também fazia parte da comissão, faleceu em 2022.
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Fonte: Aleteia
URL Original: https://pt.aleteia.org/2025/12/05/diaconato-feminino-uma-comissao-do-vaticano-fecha-a-porta-por-enquanto/
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