“Sem fé em Deus, não podemos ter esperança na salvação”, diz Leão XIV na canonização de sete santos
O papa Leão XIV em missa de canonização hoje (19) no Vaticano. | Daniel Ibáñez/EWTN
O papa Leão XIV disse hoje (19), na canonização dos primeiros santos venezuelanos — o médico José Gregorio Hernández e a freira Carmen Rendiles — que num mundo sem fé, a liberdade “seria derrotada pela morte”.
“Eis por que Jesus, o Filho de Deus feito homem, se interroga sobre a fé: o que aconteceria se ela desaparecesse do mundo? O céu e a terra permaneceriam como antes, mas não haveria mais esperança nos nossos corações; a liberdade de todos seria derrotada pela morte; o nosso desejo de vida precipitaria no nada”, disse o papa em sua homilia. “Sem fé em Deus, não podemos ter esperança na salvação”.
Leão XIV falou sobre isso na missa que também canonizou o leigo Peter To Rot (1912-1945), natural de Papua-Nova Guiné, morto por japoneses no fim da Segunda Guerra Mundial; o bispo e mártir armênio Ignazio Choukrallah Maloyan, morto em 1915 por forças otomanas por se recusar a se converter ao islamismo; a missionária Maria Troncatti, que dedicou sua vida a ajudar a população indígena Shuar do Equador; e o advogado italiano Bartolo Longo, que depois de ser satanista abraçou a fé católica e fundou o santuário pontifício de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, na Itália.
Leão XIV destacou os sete novos santos como exemplos de vida cristã autêntica: “Não são heróis, nem paladinos de um ideal qualquer, mas homens e mulheres autênticos.”, enfatizou ele.
A cerimônia de canonização na praça de São Pedro, no Vaticano, começou com um discurso do prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, que apresentou as histórias dos sete santos ao papa Leão XIV.
As biografias dos dois venezuelanos José Gregorio Hernández e Carmen Rendiles e a do italiano Bartolo Longo geraram muitos aplausos dos fiéis presentes.
Depois de recitar a fórmula em latim com a qual proclamou oficialmente os sete santos, o papa fez sua homilia, falando a milhares de fiéis reunidos na praça de São Pedro.
O papa falou sobre a passagem do Evangelho segundo são Lucas em que Jesus pergunta se, quando o Filho do Homem vier, encontrará fé na Terra, dizendo que "uma terra sem fé seria povoada por filhos que vivem sem Pai, ou seja, por criaturas sem salvação".
A fé, disse Leão XIV, “salva do nada tudo o que simplesmente acaba” e sustenta o compromisso com a justiça porque “acreditamos que Deus salva o mundo por amor, libertando-nos do fatalismo”.
O papa disse que a fé, comparada aos grandes bens materiais e às conquistas culturais, científicas e artísticas da humanidade, "sobressai" não porque essas conquistas sejam insignificantes, mas porque sem a fé elas perdem seu "sentido".
Leão XIV exortou os fiéis a manterem uma vida de oração perseverante: “Tal como não nos cansamos de respirar, também não nos cansemos de orar! Do mesmo modo que a respiração sustenta a vida do corpo, a oração sustenta a vida da alma”.
Inspirado pela passagem do Evangelho de são Lucas, ele falou sobre a parábola do juiz injusto e da viúva. O papa disse que a atitude da mulher da passagem "torna-se para nós um bonito exemplo de esperança, especialmente nos momentos de provação e tribulação".
Em vez disso, o juiz, que cede relutantemente, serve como um contraste para sublinhar a justiça e a bondade de Deus, disse Leão XIV. O Senhor "pergunta-nos se acreditamos que Deus é um juiz justo para com todos", disse o papa. "O Filho pergunta-nos se acreditamos que o Pai quer sempre o nosso bem e a salvação de todas as pessoas", disse também o papa.
Leão XIV falou sobre duas tentações que podem enfraquecer a fé. A primeira tem raízes no escândalo do mal, "levando-nos a pensar que Deus não ouve o clamor dos oprimidos nem tem piedade do sofrimento dos inocentes", disse o papa.
A segunda tentação é a pretensão de que Deus "deve agir como nós desejamos", disse também ele. Assim, Leão XIV disse que, nesse caso, "a oração cede então lugar a uma ordem dirigida a Deus, para lhe ensinar o modo de ser justo e eficaz".
Em contraste com essas duas atitudes, o papa destacou que o exemplo de Cristo liberta os fiéis de todo desespero ou arrogância espiritual.
"Jesus, testemunha perfeita da confiança filial, liberta-nos de ambas as tentações”, disse Leão XIV. “Ele é o inocente que, sobretudo em sua Paixão, reza assim: Pai, faça-se a tua vontade (cf. Lc 22, 42)".
Ele disse também que essas mesmas palavras estão no cerne da oração cristã por excelência: "São as mesmas palavras que o Mestre nos entrega na oração do Pai Nosso. Aconteça o que acontecer, Jesus confia-se como Filho ao Pai".
Assim, o papa disse que a cruz de Cristo "revela a justiça de Deus" e que “a justiça de Deus é o perdão”.
“Ele vê o mal e redime-o, tomando-o sobre si", disse Leão XIV. "Quando somos crucificados pela dor e pela violência, pelo ódio e pela guerra, Cristo já está ali, na cruz por nós e conosco".
O papa também enfatizou o consolo que Deus oferece aos fiéis: “Não há choro que Deus não console, nem lágrima que esteja longe do seu coração. O Senhor escuta-nos, abraça-nos como somos, para nos transformar como Ele é”.
Leão XIV disse também que a recusa em aceitar a misericórdia divina também afeta os relacionamentos: "Quem recusa a misericórdia de Deus, permanece incapaz de misericórdia para com o próximo. Quem não acolhe a paz como um dom, não saberá dar a paz".
“Quando ouvimos o apelo de quem está em dificuldade, somos testemunhas do amor do Pai, como Cristo o foi para com todos?”, perguntou ele.
Leão XIV exortou os fiéis a seguir o exemplo dos santos canonizados hoje e pediu "mártires" como o bispo Ignacio Choukrallah Maloyan e o catequista Pedro To Rot; "evangelizadores e missionários" como a freira Maria Troncatti; "fundadores carismáticos" como a freira Vicenta Maria Poloni e a freira Carmen Rendiles Martinez; e "benfeitores da humanidade" com corações inflamados de devoção, como Bartolo Longo e José Gregorio Hernández Cisneros.
Desde o início da manhã de hoje, peregrinos lotaram a praça de São Pedro com cânticos, orações e faixas para ver a cerimônia de canonização dos sete santos, testemunhas da fé em diferentes cantos do mundo.
Na praça de São Pedro, as culturas dos países de origem dos sete santos se misturaram. Havia grupos em trajes tradicionais de Papua-Nova Guiné e delegações da Armênia, da Itália e da Venezuela com faixas e imagens dos sete santos. Fiéis venezuelanos, particularmente numerosos, carregavam imagens do "médico dos pobres" junto com suas bandeiras nacionais.
Victoria Cardiel é jornalista especializada em temas de informação social e religiosa. Desde 2013, ela cobre o Vaticano para vários veículos, como a agência de noticias espanhola Europa Press, e o semanário Alfa y Omega, da arquidiocese de Madri (Espanha).
O que é canonização equivalente, que levará José Gregorio Hernández aos altares
O papa Leão XIV vai declarar oficialmente no próximo domingo (19) sete beatos como santos, entre eles José Gregorio Hernández, médico venezuelano que alcançou a dignidade dos altares por meio de uma canonização equivalente autorizada pelo papa Francisco em 25 de fevereiro.
Homilia do papa Leão XIV na missa de canonização de Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis
Segue abaixo a homilia do papa Leão XIV na missa de canonização de Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, celebrada hoje (7) na praça de São Pedro, no Vaticano.
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Fonte: ACI Digital
URL Original: https://www.acidigital.com/noticia/65031/sem-fe-em-deus-nao-podemos-ter-esperanca-na-salvacao-diz-leao-xiv-na-canonizacao-de-sete-santos
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